Diário do Alto Tietê – DAT – 05/09/10
Guilherme Mussi*
Dias atrás, num encontro de executivos em São Paulo, um assunto silenciou a platéia. No evento que discutia meios de captar e reter talentos nas empresas, o testemunho de uma das mais destacadas lideranças do mundo dos negócios, o ex-presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva, revelou que, para continuar o ciclo de desenvolvimento em que está inserido, o Brasil terá de se preocupar com “o apagão da mão de obra”.
Piva afirmou que diariamente é abordado por colegas empresários às voltas com a dificuldade de encontrar no mercado de trabalho profissionais capacitados para assumir posições operacionais em suas indústrias ou gestores estratégicos nas mais diferentes áreas. Mas com tanta gente ainda sem emprego por aí, o que estará acontecendo, então?
A explicação é simples. Os recém-formados em cursos técnicos profissionalizantes e em faculdades nem sempre têm a capacitação necessária para assumir as tarefas que estão a sua espera. Falta-lhes a experiência, a vivência profissional que só o tempo poderá oferecer. Mas aí está o grande problema: como o jovem pode ter experiência se muitas vezes seu primeiro emprego na área em que se formou só é obtido após a conclusão do curso?
Há também um descolamento entre o que o mercado necessita e o que boa parte de nossas faculdades e universidades está formando. Um importante especialista em educação, o ex-reitor da Universidade de São Paulo, Roberto Leal Lobo e Silva Filho, alertou para a enorme defasagem na formação de engenheiros no Brasil, num levantamento que vai muito além do boom no mercado imobiliário e da construção civil, detectando carências nas áreas de produção e pesquisa.
Após o alerta do educador, poucas ações efetivas foram adotadas pelo Governo. Como não se trata de uma questão que terá solução imediata – precisamos de pelo menos cinco anos para formar um engenheiro – a tendência é que esse quadro se agrave nos próximos anos, enquanto muitas instituições de ensino superior continuarão fechando vagas e turmas de engenharia.
Além disso, existem no país inúmeros projetos visando a inserção do jovem no mercado de trabalho. Alguns deles, preocupados com a orientação que se deve dar a quem necessita, antes de tudo, compreender a importância do trabalho, a oportunidade de aprendizado permanente e noções elementares para lidar com as situaçõe e conflitos no ambiente profissional, cada vez mais competitivo.
O que falta é uma integração maior entre o que estes programas de aprendizes, primeiro emprego, iniciação ao trabalho têm a oferecer e o que as empresas efetivamente necessitam. E mais adiante desenvolver novas oportunidades para possibilitar estágios, programas de trainne (treinamento e seleção de estudantes e recém-formados para postos executivos) e estímulo a capacitação permanente, à especialização e à continuidade nos estudos.
O jovem precisa ser estimulado a se desenvolver cada vez mais e estar ciente de que a formação técnica ou até universitária que lhe possibilitou chegar ao primeiro emprego na área em que escolheu para atuar é apenas um ponto de partida. Daí para frente, tudo dependerá da disposição de cada um de assumir papéis cada vez mais requisitados e necessários na liderança de um Brasil moderno e efetivamente voltado para o futuro.
*Guilherme Mussi é administrador de empresa e fundador do Instituto Paulista de Renovação (INPAR).
Muito bom esse texto e preocupante a sua retórica. Mas o problema maior é quando o profissional se encontra na "zona de desconforto" quanto a recolocação profissional. Eu sou um exemplo. Parada há 6 meses! Isso porque sou formada em Administração e Direito e pós graduada em Gestão Empresarial e Marketing! O negócio é continuar corrigindo e normatizando trabalhos acadêmicos! Abraços!!!
ResponderExcluir